Hoje é dia 20/9, um dia depois de ter perdido para a morte um dos meus
gatos de estimação, meu branquinho, o Boy. Antes dele, já tive dois cães
machos, filhotes. Perdi ambos para uma doença impiedosa. Senti a minha primeira
dor próxima pela morte. Quase dois anos depois, voltei a sentir essa dor.
Ontem a tarde, recebi a notícia de que meu gato estava vomitando. Pensei
inicialmente em excesso de ração, ele passava um tempo na rua e voltava só para
comer. Até então, não imaginava que seria algo pior. Minha irmã disse que ele
estava deitado em um canto do quintal e que não deixava ela se aproximar. Ele saiu,
foi para academia. Isso foi no meio da tarde. Saí do trabalho e vim direto para
casa. Fui até o canto que ele estava, mas o encontrei morto. Em um primeiro
momento pensei “Puts, Boy, você morreu, cara. Que sacanagem,”.
De imediato liguei para minha namorada para avisar do ocorrido. Não
conseguia o contato, até que ela me retornou. Falei o que havia acontecido, ela
ficou triste com a notícia também. Já fui pensando em o que faria com o corpo
dele, mas depois disso, minha chave emocional foi ativada. Quando desliguei o
telefone, comecei a chorar sua morte. Senti a mesma dor de dois anos atrás, mas
já entendida e absorvida mais facilmente.
Tive ali um momento de tristeza muito forte. Senti um pedaço de meu chão
cair. Em lágrimas, comecei a procurar algo em que eu pudesse tirá-lo daquele canto
do quintal. Fui ao quarto, peguei uma sacola grande e com todo cuidado, fui
colocando o corpinho dele dentro. Foi quase como uma cerimônia de despedida
(pauso agora para chorar, as memórias do dia ainda me emocionam muito). Deixei ele
em cima de um caixote, peguei uma cadeira, fiquei perto e fiz seu pequeno e
curto velório. Minhas lágrimas ainda eram evidentes, mais contidas, mas contínuas.
Minha irmã chegou e viu a situação, ficou chocada com o acontecido, se
compadeceu a morte, me orientou a entrar e ir deitar um pouco. Fiquei mais um
pouco e entrei.
Deitei em minha cama e passei em lembrar de todos os relatos, vídeos e
afins de pessoas que perderam seus animais de estimação para a morte, fosse por
doença, fosse por velhice, fosse para poupar o animal do sofrimento. Me
compadeci em cada lembrança. E lembrei de tantas falas de pessoas que dizem que
“animal não é gente, morre um, pega outro”. É um ser vivo como nós, dedicamos
nosso carinho nossa atenção, nosso dinheiro, nossa morada para eles e eles nos
retribuem com carinho, com brincadeira, com pulos, com um roçar nas pernas, com
companhia no sofá ou cama. Damos nosso tempo para eles e eles dão o tempo deles
para nós. E o tempo do meu gato acabou.
Já tinha ligado para solicitar a remoção do meu gato, umas 20:15 mais ou
menos, chegaram. Um funcionário bateu palmas em frente de casa, levantei da
minha cama, saí, abri o portão e ele entrou. Estava com um saco plástico
branco, pegou o corpo do meu gato o colocou no saco e o levou embora. Me
contive para não chorar, mas quando voltei para meu quarto, as lágrimas não se
continham, chorei brevemente. Tenho mais duas gatas, acho que entenderam um
pouco da minha tristeza e se deitaram comigo na cama.
Pensei em Deus nesse momento. Por que meu gato morreu tão novo? Por que
ele teve que ir embora com dor, sofrendo? Quando perdemos alguém querido para
nós, a pergunta é sempre a mesma “Por quê?”. Fiquei em minha cama o resto da
noite, pensando em uma resposta. Mas aí lembrei “Deus nos tira hoje para nos
dar em dobro amanhã” e aos poucos fui acalmando meu coração, mesmo triste.
E quando o cara lá de cima age, as coisas aqui embaixo acontecem. Fiquei
até um pouco depois da meia-noite acordado, aí tive que dormir, o dia seguia e
tinha que ir trabalhar. Fui pegar meu cobertor e ele estava molhado. Minha gata
estava no quarto e ficou embaixo do cobertor, pensei na hora “Mijou na minha
cama”, mas para minha surpresa, Deus agiu. Minha gatinha acabava de dar luz a
dois filhotes. Pulei da cama chamando minha irmã “Jéssica, pega a
transportadora, nasceu os filhotes da Mel”. Minha irmã veio ver a cena e se
animou também, me ajudou no que foi possível para arrumar a minha gata e os
filhotes.
Depois de uma grade tristeza, na virada do meu dia, tive uma grande
alegria. Agradeci imensamente a Deus por estar presente naquele momento. Mais
tarde, depois de acordar para ir ao trabalho, vi que haviam 4 filhotes, minha
gata sofreu um pouco mais, mas estava tudo bem.
Vivenciei a morte e vida de Deus em pouco tempo. E sei que chegará
outros momentos assim durante toda minha vida. A morte é o fim de uma nova
história, mas a vida nos ensina a continuar a escrever as nossas histórias,
sempre lembrando de tudo que já foi escrito antes.
Essa é uma pequena homenagem para meu gato de estimação e uma amostra de
minha alegria pelo nascimento dos filhotes.