sexta-feira, 8 de março de 2024

PERFUME DE PESCOÇO

 


Nós, mamíferos, temos uma relação incrível com nossas mães. Ao nascer, temos o colo, o alimento, o aconchego. Porém, se puxar um pouquinho mais na memória, temos o cheiro de nossa mãe, e esse cheiro vem principalmente do pescoço, onde sempre estamos aconchegando nosso rosto. E não só como mãe, como mulher, elas nos marcam com seus mais belos perfumes, e claro, esse cheirinho de pescoço é uma marca que acompanha a nossa trajetória.

No colo enquanto bebê, sentimos esse perfume materno no aconchego, no soninho, no abraço, no carinho.

Na infância, temos o cheiro da segurança, quando tropeçamos e queremos um afago, no abraço do pós-susto da professora, no abraço choroso da mãe, enquanto ela nos fala “Eu não disse que era para tomar cuidado?”.

Na adolescência, quando chegamos da escola, pulando no abraço da mãe no sofá; quando estamos aprontando e vamos nos guardar segurando firme por trás, parecendo um paraquedas de tão firme e grudado nas costas; quando vamos agradar a cozinheira da escola pela dedicação do alimento do dia ou até para puxar o saco e pedir um biscoito a mais.

Na fase adulta, quando a mulher sente a sua companhia vir de surpresa, abraçar e dar um beijo no pescoço e dar aquele cheiro para sentir a fragrância da paixão; quando chega a hora de dormir, fica ali na conchinha do abraço quente e com o pescocinho bem ali, pertinho, antes de ter que levantar e ver como estão as crianças no quarto; quando vai desabafar com aquela amiga com perfume barato, mas com o cheiro de conforto num abraço de “Calma, estou aqui para te ouvir”.

Na fase dos cabelos brancos, quando a experiência de toda uma vida se torna fruto de uma família que cresce e volta ao ciclo do melhor cheirinho do mundo, aquele pescoço; quando aquela criançada passa correndo ao seu lado e um deles para “Oi, tia!” e a resposta “Oh, menino, vem cá, dá um abraço na tia. Você tá bem, meu filho?”.

Pode ser um detalhe tão sutil, mas tão sutil, que se não fosse minhas mais belas memórias, não teria contado. Falei de mãe, falei de professora, falei de cozinheira, falei de avó, falei da vizinha mais antiga e gente boa da rua, mas falo da mulher, de toda mulher, para toda mulher, que nos dá a oportunidade de sentir esse cheiro de amor, afago, carinho, cuidado, saudade.

Para as mulheres, que o abraço seja o sinal de sempre nos marcarem pela sua melhor essência, seja a interior, seja a do seu pescoço. Parabéns pelo dia, melhor, não só pelo dia, mas por todos os dias.

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